Adoro, por exemplo, como agora, estar em casa sem nada pra fazer, tomar uma cervejinha comigo mesmo -- tambem podia ser um cha, dependendo do dia --, ouvindo as musicas que eu gosto, curtindo o sol que entra pela janela, pensando bobagens sobre a vida. Tao facil ser feliz.
Tambem adoro receber os amigos, é certo. Mas isso é outra historia. Porque tem coisas que a gente so faz quando ninguem esta olhando, e outras que a gente faz pra si mesmo como se estivesse recebendo uma visita, ou como se fosse um presente. Eu, pelo menos, sinto assim. Deve ser porque eu gosto muito da minha propria companhia (se voce nao suporta estar sozinho consigo mesmo, deve ser mais dificil...).
Eu me divirto preparando comidinhas para mim, organizando meu espaço e minhas contas, perfumando a casa com incenso, tirando uma soneca gostosa no meio do dia. Igualmente poderia fazer outras coisas tao divertidas quanto, como ir ao cinema, ou ao supermercado. (Alias, ja reparou como é perfeito ir ao cinema sozinho? Voce pode chegar 1 minuto antes de começar a sessao e sempre vai achar um lugar otimo bem no meio da plateia!).
As vezes, eu me culpo um pouco por focar a minha vida nos meus lazeres e prazeres, e pensar tao pouco em trabalho e responsabilidades. Sim, elas estao ai e nao necessariamente as ignoro, mas sinceramente, acho que ja esta na hora de assumir que meu projeto de vida nao é ser uma pessoa responsavel e trabalhadora, e sim viver intensamente, perdidamente, apaixonadamente, impreterivelmente, hoje e ate quando durar.
Estou fascinada com um artigo que li esses dias sobre os ensinamentos de Buda a respeito da impermanencia. Mudar é parte essencial da nossa natureza, assim como envelhecer, ir perdendo a saude, morrer, e sofrer as consequencias das nossas açoes. Simplesmente nao ha como escapar dessas coisas. Se eu pudesse me manter consciente dessas verdades -- e aceita-las -- todo o tempo, certamente seria muito mais feliz todo o tempo. E cada um de nos tem seus pontos mais faceis ou mais ruidosos de se aceitar nessa filosofia toda.
Essa semana, pela primeira vez, me olhei no espelho e me vi com 30 anos. Tambem nao ha como escapar dessa sensaçao estranha de dar-se conta da realidade, o bom e velho "cair a ficha". Nao é o fato em si que me incomoda, essa parte de ficar velho eu ja entendi. O que incomoda sao esses 5 segundos entre saber e aceitar. A morte é outro ponto que tampouco me causa muito susto (a dos outros, entenda-se... lidar com a ideia de que um dia eu vou morrer ainda é dificil, as vezes).
Conversando com o Gerardo esses dias, a gente chegou a conclusao de que, num relacionamento -- ou melhor, no final de um --, é muito mais facil superar a morte do que o abandono (E quem vier me dizer que a parte que abandona tambem sofre, é porque nunca tomou um pe na bunda). Nao me esqueço de um trecho de Schoppenhauer, que vou citar de memoria porque nao me lembro o nome do livro agora, onde ele questionava: quando um animal devora outro, o que é maior, o prazer de quem devora ou a agonia de quem é devorado? De qualquer forma, é de lei que esse ai tambem sera devorado um dia...
Seria uma inverdade (olha que palavra bonita e delicada) dizer que sempre penso nas consequencias das minhas açoes. Vez-em-quando, faço e digo coisas tao imbecis que, na hora de lidar com as suas devidas consequencias, nao acredito como nao fui capaz de pensar em algo minimamente melhor ANTES. E nao adianta nem se arrepender ou pedir desculpas. Ha situaçoes em que pedir desculpas so serve para manter os dentes no lugar, as vezes nem isso.
Mas enfim, a parte boa que consigo tirar de todos esses ensinamentos de Buda é que TUDO MUDA, de modo que nada pode ser ruim, nem bom, pra sempre. E mesmo as decisoes mais equivocadas acabam se transformando em outra coisa e de tudo se tira proveito.
Eu, que ha uns dias atras andava deprimidissima -- provavelmente porque estava contrariando minha natureza, tentando ser uma pessoa trabalhadora e responsavel -- mal acredito que hoje esteja nessa paz, de bem com a vida e feliz. Claro que tem uma serie de fatores que interferem no meu estado de espirito: viajar, estar com alguem especial, ter a perspectiva de voltar em breve para a minha casa e mais umas boas novas que andam pintando, ajudam muito.
Ler o blog da Si tambem é sempre uma inspiraçao pra mim. Cada vez que eu passo la, tenho vontade de ir a um psicoanalista, porque ela se coloca umas questoes que me fazem pensar em pontos da minha existencia, desses que a gente so ousa tocar quando tem alguem por perto pra assoprar, sabe? Esses dias, ela falou algo sobre viver uma vida "de plastico", ou seja, de mentira, tentando ser o que nao se é. Entao eu me toquei que, no fundo, bastou eu assumir o que sou e voltar a agir de acordo com a minha natureza pra ser feliz outra vez.
Ouvindo: a trilha sonora de Before Sunrise/Before Sunset. Veja (ambos) filme(s), compre o disco, apaixone-se!
5 comentários:
Déa,
Adorei o Blogger. Nossa...bacana o texto, ando tb numa fase bem parecida com essa. Foi muito passar por aqui. Beijos,
Déa do Rio de Janeiro
Que bom que voce gostou, Dea. Acho que essas questoes sao universais mesmo, e em algum ponto da vida chegamos a pensar seriamente nelas...
Volte sempre!
Déa, seus textos estao cada vez melhores!!!
Adorei o topico de hj, me fez refletir tb... alias, é mesmo complicado "ser feliz" sem viver de verdade "as mudancas" proporcionadas pelas nossas escolhas... quero aprender a aproveitar ainda mais cada fase e cada momento.
um bjao
E aí, gata, tudo bem?
Olha só, vou estar em NY em 21 de junho. Alguma chance de te ver por lá?
Beijos!
Um admirador de Halle Berry
Segundo meus planos, em 21 de junho quero estar curtindo o Brasil, mas nunca se sabe, nao é?
Segundo o ditado: "O homem faz planos, e Deus ri".
Bjos!
Postar um comentário